"ALGUMAS PESSOAS NASCEM PARA SENTAREM NA BEIRA DO RIO... ALGUMAS SÃO ATINGIDAS POR RAIOS... ALGUMAS TEM OUVIDO PARA MÚSICA... ALGUMAS SÃO ARTISTAS... ALGUMAS NADAM... ALGUMAS ENTENDEM DE BOTÕES... ALGUMAS CONHECEM SHAKESPEARE... ALGUMAS SÃO MÃES... E ALGUMAS PESSOAS... DANÇAM..."

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Às 8:36 AM Por Murillo Jales em    Sem comentários

Existia um garoto que certo dia acordou, olhou ao redor e não reconheceu ninguém. Todos olhavam para ele  e o garoto não entendia muito bem o que estava acontecendo, tudo era estranho. Com o passar dos anos ele se acostumou e acreditou que ali era o seu lugar e acabou ganhando a certeza de que nunca havia estado em outro lugar, senão aquele. Ele conseguiu amar todas aquelas pessoas como se fossem realmente sua família e de fato era. Mas mesmo depois de crescer, longos anos se passarem, o antigo garoto que já podia ser chamado de homem, não conseguia ser feliz.
Ele costumava sair e andar sem um roteiro definido buscando algo que pudesse fazê-lo viver novamente. A morte é um mistério para a maioria das pessoas, todos tentam entender o motivo da partida, a missão deixada para trás, a dor que fica, coisas do ser humano...querer entender algo imcompreensível. Mas aquele homem sentia-se morto e entendia bem o significado da morte.
Numa de suas caminhadas, ele encontrou uma criança sentada sozinha numa calçada. Poderia ser apenas mais uma criança, mas sem entender, ele parou e a olhou bem. Quando queremos entender as pessoas basta-nos olhar bem nos olhos delas, é uma parte do ser humano que não consegue mentir. Apenas dez segundos  foram suficientes. O homem saiu andando, constrangido, agitado, totalmente confuso sem entender  o que estava acontecendo. Ele sentou-se num boteco, baixou a cabeça no balcão e foi levado a um outro lugar, distante, muito distante. 
Quando ele levantou a cabeça, estava numa mesa ao redor de seus irmãos e seus pais. Sua mãe sorria pra ele, pergutando se ele queria mais torradas; o seu pai entregava uma nota de 20 reais para o lanche na escola; seus irmãos disputavam quem terminaria primeiro de comer...E ele estava ali sentado e não conseguia ser feliz em meio a sua família. Ao fechar os olhos e abrí-los novamente, o homem se deparou com muitas pessoas olhando-o e ele não sabia quem era nenhuma delas. 
Então ele fechou e abriu os olhos novamente e estava no boteco, sentado, sozinho. Nenhuma novidade na solidão sempre experimentada pelo homem. 
Ele resolveu voltar e falar com o garoto que tinha visto na calçada mas não o encontrou novamente. Alguma família deve ter levado o garoto e cuidado dele - pensou o homem, sabendo que não acreditava nisso. Mas quando cruzou os olhos sobre a rua, viu o garoto caminhando, indo embora, sem rumo definido, quem sabe apenas buscando algo que o fizesse viver pela primeira vez.
E o homem virou e continuou a caminhar, com a lembrança do olhar do garoto que se confundia com o seu olhar quando ele que era o garoto e as pessoas o olhavam. No coração dele, apenas o sentimento de ver o futuro repetir o passado e a imagem do garoto andando sem rumo, tendo a certeza de que o tempo não pára, jamais.   

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