quarta-feira, 13 de abril de 2011
Às 8:36 AM Por Murillo Jales em Textos Sem comentários
Existia um garoto que certo dia acordou, olhou ao redor e não reconheceu ninguém. Todos olhavam para ele e o garoto não entendia muito bem o que estava acontecendo, tudo era estranho. Com o passar dos anos ele se acostumou e acreditou que ali era o seu lugar e acabou ganhando a certeza de que nunca havia estado em outro lugar, senão aquele. Ele conseguiu amar todas aquelas pessoas como se fossem realmente sua família e de fato era. Mas mesmo depois de crescer, longos anos se passarem, o antigo garoto que já podia ser chamado de homem, não conseguia ser feliz.
Ele costumava sair e andar sem um roteiro definido buscando algo que pudesse fazê-lo viver novamente. A morte é um mistério para a maioria das pessoas, todos tentam entender o motivo da partida, a missão deixada para trás, a dor que fica, coisas do ser humano...querer entender algo imcompreensível. Mas aquele homem sentia-se morto e entendia bem o significado da morte.
Numa de suas caminhadas, ele encontrou uma criança sentada sozinha numa calçada. Poderia ser apenas mais uma criança, mas sem entender, ele parou e a olhou bem. Quando queremos entender as pessoas basta-nos olhar bem nos olhos delas, é uma parte do ser humano que não consegue mentir. Apenas dez segundos foram suficientes. O homem saiu andando, constrangido, agitado, totalmente confuso sem entender o que estava acontecendo. Ele sentou-se num boteco, baixou a cabeça no balcão e foi levado a um outro lugar, distante, muito distante.
Quando ele levantou a cabeça, estava numa mesa ao redor de seus irmãos e seus pais. Sua mãe sorria pra ele, pergutando se ele queria mais torradas; o seu pai entregava uma nota de 20 reais para o lanche na escola; seus irmãos disputavam quem terminaria primeiro de comer...E ele estava ali sentado e não conseguia ser feliz em meio a sua família. Ao fechar os olhos e abrí-los novamente, o homem se deparou com muitas pessoas olhando-o e ele não sabia quem era nenhuma delas.
Então ele fechou e abriu os olhos novamente e estava no boteco, sentado, sozinho. Nenhuma novidade na solidão sempre experimentada pelo homem.
Ele resolveu voltar e falar com o garoto que tinha visto na calçada mas não o encontrou novamente. Alguma família deve ter levado o garoto e cuidado dele - pensou o homem, sabendo que não acreditava nisso. Mas quando cruzou os olhos sobre a rua, viu o garoto caminhando, indo embora, sem rumo definido, quem sabe apenas buscando algo que o fizesse viver pela primeira vez.
E o homem virou e continuou a caminhar, com a lembrança do olhar do garoto que se confundia com o seu olhar quando ele que era o garoto e as pessoas o olhavam. No coração dele, apenas o sentimento de ver o futuro repetir o passado e a imagem do garoto andando sem rumo, tendo a certeza de que o tempo não pára, jamais.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Pesquisar
Perfil
- Murillo Jales
- Natal, RN, Brazil
- "Eu prefiro ser uma metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo."
Posts Populares
-
Existia um garoto que certo dia acordou, olhou ao redor e não reconheceu ninguém. Todos olhavam para ele e o garoto não entendia muito ...
-
Uma única escolha é capaz de mudar nossa vida completamente. Um emprego que deixamos de lado por causa de outro aparentemente melhor...
-
A vontade de jogar tudo pro alto e viajar ao redor do mundo, sem medos ou receios, apenas se permitindo viver. A fantasia de rea...
Recomendo
- - 1933 foi um ano ruim. JOHN FANTE
- - Crime e castigo. DOSTOIEVSKI
- - Cristianismo puro e simples. C.S LEWIS
- - Espere a primavera, Bandini. JOHN FANTE
- - Pergunte ao pó. JOHN FANTE
- - Recordação da casa dos mortos. DOSTOIEVSKI
- - Sonhos de Bunker Hill. JOHN FANTE
Seguidores
Murillo Jales. Tecnologia do Blogger.
0 comentários:
Postar um comentário